Desde 2018, diversas empresas brasileiras passaram a negociar ações no exterior. A maturidade do mercado de tecnologia nos Estados Unidos, bem como o acesso aos grandes investidores internacionais pesaram na escolha das companhias por IPO na Nasdaq ou na Nyse, a Bolsa de Ações de Nova York.
A PagSeguro foi a primeira a estrear diretamente na Nyse. Desde então, outras 12 empresas abriram capital na terra do Tio Sam, 4 delas em 2021. Já são 14 se formos contar o Banco Inter, que anunciou a migração para a Nasdaq no dia 17 de junho.
Assim como as outras empresas brasileiras que negociam ações no exterior, o Inter espera se beneficiar do peso do dólar na segunda maior bolsa do mundo – o valor de mercado da Nasdaq ultrapassa 13,8 trilhões de dólares.
Por que empresas brasileiras estão negociando ações no exterior?
Empresas de tecnologia e de serviços financeiros são as que mais têm negociado ações no exterior,diretamente nas bolsas americanas. Uma vez em Wall Street, as companhias adentram a principal arena de competição financeira do planeta, com a finalidade de encontrar seus concorrentes globais. Neste palco, estão também os gestores de fundo e os maiores investidores. Em outras palavras, enxergam grande potencial de crescimento.
Mais de 3.700 empresas compõem a Nasdaq. Na Nyse, são mais de 2.500 listadas. Assim, há uma grande oferta para investidores e gestores fazerem comparações de ativos de diversos setores, o que facilita a montagem das carteiras.
Ademais, as condições regulatórias também pesam. No Novo Mercado, da B3, as empresas listadas só asseguram o status de boas práticas de governança corporativa ao emitir ações ordinárias (ON), ou seja, aquelas com direito a voto.
Contudo, para uma companhia que faz IPO para crescer, essa regra pode não ser boa, já que a venda de ações é justamente para financiar o crescimento. Com cada papel valendo um voto, a venda de ações pode levar o fundador a perder o controle da companhia.
Nos EUA, existe a possibilidade de ter ações com pesos de votos diferentes, o que permite ter um controlador com menos de 50% das ações. Ou seja, as bolsas americanas se tornam mais atraentes para algumas empresas, principalmente as de tecnologia.
Negociar ações no exterior é melhor?
Não necessariamente. Todos esses fatores mencionados não garantem que o desempenho operacional será satisfatório, como já é percebido pelos investidores. A fim de operar na Nasdaq, as empresas correm mais riscos no processo de abertura de capital devido à regulação mais complexa e os elevados custos com a documentação.
Até mesmo a exposição ao mercado global pode ser perigosa. Com uma competição tão acirrada, uma empresa que seria dominante no mercado doméstico corre risco de se tornar small cap na bolsa americana, por exemplo.
A conjuntura político-econômica brasileira também pode impactar nas decisões dos investidores estrangeiros, ainda que não afete a operação das empresas com ações no exterior diretamente.
Conheça 14 empresas com ações no exterior
Banco Inter (BIDI)
Vamos começar pelo Inter, que não abriu capital na Nasdaq ainda, mas o fará em breve e precisa entrar nessa lista. O banco optou por negociar ações no exterior como Inter&Co para se fortalecer como uma empresa global de tecnologia a fim de acessar o mercado de capitais mais maduro do mundo.
Portanto, sua expectativa é diversificar a base de investidores e clientes, enquanto continua desenvolvendo seu superapp com novos serviços e produtos. Neste artigo, falamos mais sobre a reorganização societária do Inter e explicamos as alternativas do atual investidor para resgatar suas ações ou convertê-las em BDRs.
PagSeguro (PAGS; PAGS34)
Em 2018, a PagSeguro levantou cerca de US$ 2,3 bilhões em seu IPO na Bolsa de Nova York (Nyse), vendendo ações a US$ 21,50. O preço-alvo médio das ações da empresa atualmente é de US$ 23,5, com uma estimativa máxima de US$ 31 e mínima de US$ 18.
Em seu último balanço divulgado (4T21), a empresa obteve lucro líquido de R$ 301,3 milhões e trouxe projeções de alta para o primeiro trimestre de 2022.
XP (XP)
A abertura de capital da XP Inc. levantou US$ 2,3 bilhões em 2019, fazendo com que a empresa estreasse na Nasdaq com valor de US$ 14,9 bilhões. O resultado foi o nono maior daquele ano.
A XP encerrou o primeiro trimestre de 2022 com um lucro líquido ajustado de R$ 987 milhões, 17% maior na comparação com o mesmo período do ano passado, e com EBITDA (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado crescendo 14%, para R$ 1,2 bilhão. Dessa forma, o resultado veio em linha com o esperado pelo mercado.
O banco digital realizou sua oferta inicial de ações na Bolsa de Valores de Nova York em dezembro de 2021, com ações precificadas a US$ 9, que renderam um valor de mercado superior a US$ 41,5 bilhões à empresa. O IPO do Nubank arrecadou US$ 2,8 bilhões. No Brasil, a instituição financeira tem BDRs listadas com o código NUBR33.
Os papéis do Nubank caíram quase 60% desde a abertura de capital, de US$ 9 para US$ 3,81. Além disso, o cenário macroeconômico e a queda do setor de tecnologia como um todo, mais a desconfiança dos investidores na capacidade do banco digital monetizar sua base de clientes, explicam tais resultados.
Recentemente o banco encerrou o lock-up de seu IPO antes do tempo previsto, de 7 de junho para 17 de maio. Como resultado, sofreu com o aumento do volume de negociação das suas ações.
A empresa brasileira de educação negocia suas ações no exterior desde setembro de 2018, quando abriu capital na Nasdaq. Na ocasião, a companhia arrecadou US$ 194,5 milhões ao vender uma fatia de 22,8% do negócio.
Patria Investments (PAX)
A gestora de private equity estreou na Nasdaq em janeiro de 2021, precificando suas ações a US$ 17. No total, a empresa movimentou US$ 588 milhões. No balanço deste primeiro trimestre, registrou lucro líquido de US$ 18,3 milhões, alta de 39,7% no ano, com lucro distribuível aos acionistas de US$ 35 milhões.
Stone (STNE)
Em sua estreia na Nasdaq, a Stone levantou US$ 1,2 bilhão. A processadora de cartões alcançou valor de mercado de US$ 9 bilhões na época em que negociou suas ações no exterior, em 2018.
A Stone vem expandindo seus serviços com a concessão de crédito e empréstimos, dessa forma, como outras instituições financeiras, sofre impactos em seus negócios devido à conjuntura econômica desfavorável e ao avanço da inflação, que eleva a inadimplência.
Mas os resultados da empresa no 1T22 superaram as projeções do final do ano: o lucro líquido ajustado foi de R$ 132,2 milhões, 29,4% abaixo do 1T21 e 292,5% acima do último trimestre de 2021. E a receita total foi de R$ 2,07 bilhões, crescimento de 138,6% na comparação com o 1T21, resultado obtido pelo aumento em suas receitas da plataforma de serviços financeiros e da plataforma de software.
Vitru (VTRU)
A companhia de ensino a distância, holding da Uniasselvi, estreou na Nasdaq em setembro de 2020. A Vitru precificou suas ações a US$ 16 e levantou US$ 96 milhões. No ano passado, ganhou a disputa com a concorrência e comprou a Unicesumar (Centro de Ensino Superior de Maringá) por mais de R$ 3 bilhões, fortalecendo seus negócios.
Vinci Partners (VINP)
A Vinci Partners, gestora de ativos, realizou seu IPO na Nasdaq em março de 2021. A empresa movimentou cerca de US$ 250 milhões com a venda de 13.873.474 ações Classe A, com cada papel saindo a US$ 18.
Outra empresa do setor de educação que negocia ações no exterior é a Afya. O grupo de educação atua com foco em cursos de medicina e nasceu da fusão entre empresas do segmento. Sua estreia na Nasdaq aconteceu em 2019 e a captação rendeu US$ 300 milhões, com ações precificadas a US$ 19.
No balanço do 1T22, a empresa registrou lucro líquido de R$ 134,9 milhões, alta de 19,1% na comparação com o primeiro trimestre de 2021, resultado puxado pelo crescimento de 48,1% em sua base de alunos.
Zenvia (ZENV)
Em julho de 2021, a startup brasileira especializada em soluções de comunicação B2C realizou sua oferta pública inicial na Nasdaq. A empresa levantou US$ 150 milhões e o preço de cada ação foi fixado em US$ 13. Três meses depois do IPO, acertou a aquisição da startup SenseData.
No balanço do 1T22, a receita líquida da empresa cresceu 61% no comparativo com igual período do ano anterior, atingindo RS 197,6 milhões.
Vetx (VTEX)
A Vtex, multinacional brasileira de tecnologia com foco em cloud commerce, realizou seu IPO em julho de 2021. A empresa captou US$ 361 milhões em uma oferta pública inicial na Bolsa de Nova York, com o preço da ação a US$ 19.
No 1T22, a receita total aumentou 33,7% no comparativo com o mesmo período de 2021, chegando a US$ 34,7 milhões.
Vasta Platform (VSTA)
A Vasta Platform, subsidiária da Cogna Educação, negocia ações no exterior desde julho de 2020. O IPO da empresa captou US$ 405,8 milhões, ao preço de US$ 19 cada papel.
No 1T22, a Cogna registrou prejuízo líquido de R$ 13,1 milhões, 61,3% menor em relação ao mesmo período de 2021. Mas a Vasta vem se recuperando desde a pandemia e registrou receita líquida de R$ 381 milhões, devido à boa performance dos serviços educacionais de receita e por assinatura.
GetNet (GETT): caminho inverso
A GetNet cindiu com o Santander para se tornar uma plataforma global de pagamentos. Em outubro do ano passado, realizou uma listagem direta na B3 com preço inicial da unit definido em R$ 4,72. Além disso, a empresa também negocia papéis na Nasdaq.
Atuando no competitivo setor de adquirência, a GetNet enfrenta uma conjuntura econômica negativa, que se soma às baixas no varejo, ascensão do Pix e perda de apetite por IPOs. Assim, diante das dificuldades, a empresa anunciou o fechamento do capital e vai realizar oferta pública pelas ações no Brasil, além de recibos de ações pelas ADSs listadas na Nasdaq.
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