Amy Webb fala sobre o futuro do Brasil, “superciclo tecnológico” e tendências de IA
Na palestra “IA: mudando o curso da história humana”, realizada no FEBRABAN TECH 2024, a futurista Amy Webb ofereceu uma análise crítica e provocativa sobre o papel do Brasil no cenário global de tecnologia e inovação. Além disso, ela apresentou a ideia de um “superciclo de tecnologia” e discutiu tendências emergentes da IA.
Webb é uma renomada futurista, professora e autora que se destaca por suas análises perspicazes sobre o impacto das tecnologias emergentes na sociedade e nos negócios. Fundadora do Future Today Institute, ela é conhecida por seu Tech Trends Report, um guia anual que antecipa as principais tendências tecnológicas globais e influencia os líderes em todo o mundo a repensar estratégias empresariais e adaptações tecnológicas.
Brasil: o país do futuro?
Após declarar seu apreço pelo Brasil, a futurista não poupou críticas. “Eu acho que vocês ainda estão vivendo no passado” declarou Webb.
Segundo ela, as empresas que mais contribuem para a economia brasileira ainda são do século XX, focadas em commodities, mineração e agricultura. “São indústrias que estão no processo de uma disrupção. A mudança está vindo,” afirmou.
Para Webb, muitos líderes brasileiros permanecem presos a velhos hábitos e práticas rígidas que impedem o progresso. “A única coisa que impede o Brasil de ser o país do futuro são vocês mesmos. A economia está forte, há pessoas altamente qualificadas e um centro de tecnologia próspero. Falta uma mudança de percepção e no estilo de gestão”.
Ela enfatizou que essa transformação é essencial para a adaptação às novas tecnologias. “Os líderes estão agindo de forma estranha, priorizando a iteração ao invés da inovação. O foco está em manter o status quo, então estão parados”.
Neste sentido, a hesitação em abraçar a inteligência artificial é sintomática: “quando pensamos em inteligência artificial, era difícil conseguir a atenção dos líderes. Agora, todos estão interessados, mas guiados ou por medo ou pelo FOMO (medo de ficar de fora)”, comentou.
Ela apontou que as indústrias não estão se preparando adequadamente para a transformação gerada pela IA, adotando uma abordagem hierárquica e rígida. Para contornar isso, Webb indicou que a chave está na “previsão estratégica”, ou seja, entender onde e como atuar no futuro.
A futurista destacou que o ambiente de negócios atual é o mais complexo dos últimos 20 anos e exige uma adaptação contínua. Ela enfatizou o potencial do Brasil, com sua economia robusta e população capacitada, para liderar essa transformação, desde que os líderes empresariais estejam dispostos a abandonar o conservadorismo e abraçar a inovação.
O eminente superciclo de tecnologia: IA, sensores e biotecnologia
A CEO do Future Today destacou a urgência de uma transformação tecnológica devido ao surgimento de um “superciclo de tecnologia”, algo inédito na história mundial.
Tradicionalmente, tecnologias disruptivas como a eletricidade, a energia a vapor e a internet surgiram de forma isolada. No entanto, Webb enxerga hoje uma combinação única e poderosa de três novas tecnologias: inteligência artificial, sensores e biotecnologia, todas interligadas pela Internet das Coisas.
“Quase todos têm olhado para essas coisas como separadas,” observou Webb. “Mas todas elas se correlacionam em um ciclo que nunca vimos antes”.
Cada uma dessas inovações pode ser considerada uma tecnologia de propósito geral. Elas são pervasivas, atuam em diversas áreas e não se limitam a aplicações em problemas ou nichos específicos. “Isso tem a capacidade de reformatar a economia de uma sociedade”, afirmou Webb.
Ela explicou que a expansão dessas tecnologias pode gerar um grande ciclo de produtividade. Quando se consolidam, há um ciclo de alta demanda que eleva os preços de commodities e serviços.
“É algo que pode se estender por anos, décadas, e vai gerar mudanças estruturais na economia”, previu Webb. O motor a vapor, por exemplo, levou à Revolução Industrial, que, por sua vez, iniciou um grande ciclo econômico.
Webb destacou que este superciclo não apenas promete avanços tecnológicos, mas também representa um potencial de transformação econômica sem precedentes. A convergência da IA, sensores e biotecnologia oferece um panorama onde setores diversos se entrelaçam, criando uma rede complexa de inovações que impulsionam a sociedade para frente.
O impacto desse superciclo é profundo e duradouro, e as empresas precisam estar prontas para adaptar suas estratégias e operações a essa nova realidade.
A futurista enfatizou que entender essa dinâmica é crucial para aproveitar as oportunidades e evitar os riscos inerentes a essa revolução tecnológica. Ela introduziu o termo “Gen T” para descrever todas as gerações que estão vivenciando a atual transição tecnológica.
3 tendências para o futuro da IA
Durante a palestra, Webb também focou nas tendências emergentes da IA e suas implicações para o futuro próximo, destacando rumos:
1. Automated Persistent Assistance (Assistência Persistente Automatizada)
Webb apontou as limitações atuais da IA, descrevendo-a como “muito manual”, onde as interações exigem muita entrada de dados e as respostas são genéricas.
Para melhorar isso, ela enxerga o conceito de “Retrieval Augmented Generation” (RAG), ou Geração Aumentada de Busca, que visa acelerar a assistência persistente. Segundo ela, os modelos atuais são bons, mas genéricos, dificultando a criação de experiências personalizadas em domínios específicos.
Webb destacou que os Large Language Models (LLMs) são avaliados principalmente pela quantidade de parâmetros que possuem, limitando a profundidade das interações e a criação de experiências pessoais ricas.
Em contrapartida, a RAG amplia essas capacidades ao adaptar o modelo para domínios específicos ou integrar conhecimento interno de uma organização sem a necessidade de um novo treinamento.
2. Embedded AI (IA Embutida)
Webb previu que nos próximos dois anos a IA se integrará completamente à internet.
Ela argumentou que simplesmente ter modelos de linguagem grandes não é suficiente. Segundo a futurista, o próximo passo são os “Large Action Models” (Modelos de Ação Ampliados), que estarão continuamente conectados e nos acompanharão para prever nossos próximos passos.
Esses modelos são projetados para executar ações complexas e tomar decisões com base em conjuntos extensos de dados orientados para a ação.
Webb antecipou uma explosão de dispositivos conectados, incluindo novos tipos de aparelhos sem tela, como tecnologias que projetam imagens diretamente na pele (conhecida como “Skin Put”), uma ideia que, embora possa parecer futurista, não é nova em termos tecnológicos.
3. Software on Demand (SOD) – Software sob Demanda
A especialista observou que atualmente somos limitados a usar apenas um ou dois tipos de softwares para todas as necessidades, como resumos ou criação de códigos.
Ela propôs um futuro onde o software seja criado conforme necessário para atender necessidades específicas, utilizando a IA não apenas para gerar códigos, mas também para personalizar e adaptar continuamente as funcionalidades conforme a evolução das demandas.
Webb argumentou que essa abordagem poderá desencadear uma revolução no uso de software, proporcionando soluções mais flexíveis e adaptáveis às demandas do mercado e dos usuários.
O futuro é definido hoje
Amy Webb analisou que muitas empresas se planejam para o futuro focando apenas nos horizontes de operações e estratégias de curto prazo.
Ela destacou a importância de ampliar essa visão com um entendimento profundo das tecnologias emergentes. Além disso, enfatizou que o futuro não é predefinido, mas moldado pelas decisões tomadas hoje, resultando em um panorama incerto com probabilidades igualmente divididas.
Como os líderes devem enfrentar esse cenário? Webb sugeriu a criação de uma cultura de curiosidade, encorajando a exploração constante e a adaptação ágil às mudanças tecnológicas, essencial para se manter à frente no cenário competitivo global.
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