ANBIMA Global Insights 2024: destaques do evento sobre investimentos no exterior
O ANBIMA Global Insights, realizado em São Paulo no dia 1º de outubro, reuniu especialistas do setor financeiro para discutir as principais tendências do mercado internacional de investimentos.
O evento destacou os desafios e oportunidades para o Brasil no cenário global de investimentos e abordou temas como educação financeira e formação de profissionais, desafios do offshore e análises de alocação de ativos. Confira a seguir os principais destaques.
As oportunidades do mercado internacional de investimentos
Giuliano De Marchi, Head de América Latina no J.P. Morgan Asset Management e diretor da ANBIMA, afirmou durante o Global Insights que o Brasil é um dos mercados mais fechados do mundo em investimentos.
Ele destacou a importância de diversificar as carteiras, equilibrando ativos locais e globais, e exemplificou exibindo uma alocação diversificada que gerou retorno anual de 11,6%. Apesar disso, o investidor brasileiro médio ainda concentra 97,5% dos ativos no mercado local.
De Marchi atribuiu esse cenário à falta de conhecimento sobre como diversificar, não apenas a uma questão cultural. Ele dividiu a diversificação internacional em três pontos principais.
Inicialmente é preciso entender as oportunidades de investimento em outros países. O Brasil representa apenas 2,1% do PIB global, o que significa que 97,9% da riqueza mundial está fora do país. De Marchi citou o mercado americano, que é 117% maior e 25 vezes mais líquido que o brasileiro.
Em segundo lugar, é necessário identificar oportunidades em outros setores. De Marchi comparou o Ibovespa com setores como o de growth nos EUA, o de luxo na Europa e o de tecnologia na Ásia, todos maiores que o índice brasileiro.
Por fim, ele ressaltou a importância de buscar empresas globais que podem ser acessadas pelos investidores brasileiros, ampliando a exposição a mercados internacionais.
A evolução dos investimentos offshore no Brasil e a importância da educação financeira
O Anbima Global Insights também contou com a participação de Cesar Chicayban, CEO do XP Private Bank, Cesar Marcelo Flora, Managing Partner do BTG Pactual, e Roberto Lee, Founder e CEO da Avenue.
Quando questionados sobre a evolução dos investimentos offshore, Lee destacou que, por muito tempo, esse tipo de investimento era associado exclusivamente ao private banking.
Marcelo Flora complementou, relembrando que existia uma série de restrições no Brasil que limitavam o acesso a investimentos internacionais. Ele citou que, especialmente em outros países na América Latina, a escassez de opções locais acabou impulsionando o interesse em mercados externos mais cedo.
Por outro lado, por ter um mercado mais robusto que seus vizinhos, o Brasil não aderiu a essa tendência e acabou se fechando, explicou.
Ao falar sobre os desafios da educação financeira, Flora apontou que a falta de conhecimento é um dos principais obstáculos, destacando que, em agosto, beneficiários do Bolsa Família gastaram R$ 3 bilhões em apostas.
“Quando se trata de investimentos offshore, o cenário é ainda mais complicado para o investidor brasileiro”, afirmou, ressaltando a necessidade de desenvolver conteúdo relevante e acessível para educar o público. Ele reforçou o papel das redes sociais como ferramenta poderosa para disseminar essa educação.
Roberto Lee concordou, acrescentando que, embora a educação seja essencial, ainda existem barreiras técnicas e percepções de risco que afastam investidores mais conservadores dos mercados offshore. “Temos alguns ‘old blocks’ técnicos que impedem a adesão de muitos investidores”, disse Lee.
Chicayban, por sua vez, destacou o trabalho que já foi feito no Brasil para democratizar o acesso aos investimentos internacionais. No entanto, ele mencionou que a formação dos profissionais da indústria financeira ainda é limitada no que diz respeito ao mercado global.
“Fizemos um grande avanço em termos de educação para o investidor, mas ainda há poucas formações e certificações internacionais disponíveis para os profissionais da área”, concluiu.
Avanços na regulação de investimentos no exterior
Durante a discussão do evento, Sylvio Castro, Partner e Head de Global Investment Solutions no Itaú Unibanco, fez uma análise retrospectiva da evolução de acesso ao mercado internacional e apontou que a variação cambial foi um obstáculo. Segundo o executivo, ela impactava a percepção de risco e retorno.
Em complemento, Juliana Laham, Global Head of Investment Solutions Group no Bradesco, que também esteve no painel sobre acesso ao offshore, trouxe à tona a transformação que ocorreu no comportamento do investidor brasileiro quando a taxa de juros caiu para 2%.
Esse cenário forçou os investidores a reavaliar seus portfólios, identificando novas classes de ativos a serem exploradas. Laham também citou que a alta dos juros nos Estados Unidos, juntamente ao desempenho histórico positivo do S&P 500, incentivou ainda mais o interesse em alocações no exterior.
Os palestrantes do painel elogiaram os avanços regulatórios para impulsionar os investimentos lá fora. A principal iniciativa mencionada foi a resolução CVM 175 que, dentre outros pontos, flexibilizou os limites de investimento no exterior em relação à CVM 555.
De modo geral, a atualização permite que mesmo fundos para investidores não qualificados invistam até 100% no exterior.
Panoramas sobre classes de ativos
Durante o ANBIMA Global Insights, especialistas também ofereceram um panorama internacional sobre diferentes classes de ativos.
Daniel Popovich, Portfolio Manager da Franklin Templeton, analisou o peso da renda variável global para o portfólio brasileiro. Ele iniciou com uma análise cambial, mostrando a valorização média anual do dólar em 7,16% nos últimos 10 anos.
Tratando dos índices, ao comparar os retornos acumulados nos últimos 15 anos entre o MSCI ACWI Index, Bloomberg Multiverse Total Returns Index, IMA-B, CDI, câmbio e Ibovespa, o índice brasileiro teve o pior desempenho, com retorno anualizado de 5,16%, contra 18,15% do MSCI ACWI, que ocupou a primeira posição.
Em adição, Popovich também discutiu a volatilidade, observando que a variação dos ativos internacionais e do câmbio é semelhante à do Ibovespa, que também é elevada. Ele destacou que cabe ao alocador explicar essa volatilidade ao investidor/cliente, para que ele compreenda melhor o comportamento dos ativos internacionais.
O gerente de portfólio também lembrou que o Brasil representa apenas 0,6% do mercado de ações globais, enquanto os EUA ocupam 48,5%, impulsionados pela alta de mega caps nos últimos anos.
No entanto, o desempenho dos EUA não foi o mais forte no Índice MSCI AC World Equity. Popovich apresentou os dados dos últimos cinco anos, nos quais Dinamarca, Taiwan e Índia superaram o mercado americano, impulsionados por setores como o farmacêutico e de semicondutores.
Já no segmento de renda fixa, Luis Oliveira, Executive Vice President of Business Development na PIMCO, explicou como a exposição a ativos internacionais, com ou sem hedge, pode aumentar os retornos e reduzir a volatilidade de um portfólio brasileiro.
Ele reforçou que investir no exterior não é apenas uma questão de diversificação, mas também uma forma de gerar lucro. Oliveira apresentou o vasto mercado de renda fixa global, avaliado em US$ 139 trilhões, dos quais US$ 49 trilhões estão nos Estados Unidos – enquanto o Brasil representa apenas 2% desse total.
Oliveira também discutiu o papel da renda fixa no portfólio: proporcionar renda e retorno total, preservar capital e diversificar em relação às ações e outros ativos de risco.
Nos EUA, por exemplo, em momentos de crise, investidores tendem a buscar segurança nos títulos do Tesouro Americano, considerados os ativos mais estáveis mesmo em períodos de instabilidade.
A inteligência artificial e o papel do advisor financeiro
Por fim, Ronaldo Lemos, advogado e especialista em tecnologia, abordou o impacto da inteligência artificial (IA) para advisors de investimento.
Ele destacou que a IA é eficaz para realizar tarefas específicas, mas não substitui completamente o serviço humano. “Você pode perder seu emprego para alguém que use a IA melhor do que você”, alertou, reforçando a importância de os profissionais adotarem essa tecnologia de maneira inteligente.
Lemos explicou que a IA pode auxiliar na supervisão e conduta dos profissionais do mercado financeiro, especialmente na distribuição de produtos.
A ferramenta oferece potencial para garantir maior transparência e um posicionamento ético no setor. “A IA funciona como uma ferramenta que democratiza o conhecimento”, afirmou. O advogado enfatizou o papel da tecnologia em analisar grandes volumes de dados e detectar padrões irregulares, algo valioso para fins de fiscalização e compliance.
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