Análise Macro: inflação nos EUA, juros, dólar, riscos e PIB global
Semana de intensa volatilidade, depois da divulgação dos dados sobre a inflação nos EUA que moveram a expectativa dos investidores para os próximos passos do Fed e impactaram o dólar. O FMI também publicou o relatório World Economic Outlook com as projeções de crescimento da economia global. Resumimos o impacto disso nos mercados e elencamos os principais riscos que os Bancos Centrais estarão de olho para os próximos anos. Confira os detalhes a seguir.
Inflação nos EUA
Na quinta-feira (13/10) os mercados globais abriram em forte baixa depois da divulgação dos dados de inflação ao consumidor americano (CPI), que ficou em 0,4% em setembro, o dobro da alta de 0,2% projetada pelo do consenso de mercado da Bloomberg. Os núcleos do índice também superaram as estimativas, saltando 0,6% no mês (vs. previsão de 0,5%) e 6,6% na comparação anual (vs. consenso de 6,5%). Com isso, o CPI acumula em 12 meses alta de 8,2%, acima dos 8,1% esperados.
Core do CPI
De acordo com o Bureau of Labor Statistics dos EUA, os aumentos nos preços de alojamento, alimentação e assistência médica foram os maiores contribuintes para a alta mensal sazonalmente ajustada, que foram parcialmente compensados pela queda de 4,9% nos preços da gasolina.
Fed
Isso apenas fortaleceu a expectativa do mercado de um Fed ainda mais hawkish. O CME Group apontava pela manhã de ontem 97% de chance de uma nova alta de 75 pontos-base nos juros em novembro e 3% de probabilidade de alta de 100 pontos-base. O resultado da inflação do consumidor persistente também elevou as apostas para uma alta mais agressiva na reunião de dezembro: A possibilidade de o Fed terminar o ano com o juro entre 4,75% e 5%, antes vista com cerca de 30% de chance, passou a ser precificada com 59% de probabilidade.
Fed Funds & Terminal Rate, %
Mercados financeiros
As expectativas de juros mais altos derrubaram os mercados americanos na primeira metade do pregão daesta quinta-feira, com os índices Nasdaq e S&P 500 futuros caminhando para o sétimo pregão consecutivo de perdas em Wall Street.
Além disso, o índice que mede as variações do dólar frente a outras seis divisas relevantes (DXY) disparou pela manhã, indicando a cautela dos investidores, em meio à expectativa de aumento agressivo de taxa nos EUA, aversão generalizada ao risco em preocupações com a recessão global, o choque de preços de energia na Europa e a guerra na Ucrânia.
Vale lembrar que o DXY apresenta uma ascensão parabólica, recentemente superou recordes históricos, e que acumula mais de 17% de alta desde o início do ano.
Índice DXY – Gráfico de 180 minutos
Entretanto, depois que o S&P 500 tocou no menor nível desde 2020 na primeira metade do pregão de quinta, houve uma virada brusca e os mercados passaram a subir no período da tarde. Em menos de três horas, os futuros do S&P 500 tiveram uma queda de 3,9% e uma alta de 3,9%. A retomada começou com papéis defensivos, como bancos, que se beneficiam da alta mais forte dos juros esperada após o dado de inflação, e pelos papéis ligados ao petróleo, que ganharam força com os anúncios de cortes de produção.
Além disso, o rendimento do papel do Tesouro americano de dez anos, que chegou a superar os 4,0% após o dado de inflação, regrediu aos 3,96% ao ano. A expectativa de alta mais forte dos juros americanos traz a expectativa de que a queda da inflação e da taxa também venha mais cedo.
Projeções do FMI
Sabe-se que a realidade pós covid continua desafiadora, em meio à invasão russa da Ucrânia, a disparada do custo de vida causada por pressões inflacionárias persistentes e crescentes e a desaceleração da economia chinesa. O movimento de aperto da política monetária do Fed é uma pressão adicional, pois representa um risco adicional de recessão mundial.
Na terça-feira (11) o Fundo Monetário Internacional divulgou a última atualização do relatório World Economic Outlook (WEO), na qual manteve inalterada a previsão de crescimento global para 2022 em 3,2%. Entretanto, a projeção para o próximo ano foi reduzida para 2,7% – 0,2 ponto percentual abaixo da previsão de julho.
O FMI espera uma ampla desaceleração em 2023 e uma estagnação das três maiores economias: os Estados Unidos, a China e a Zona do Euro. A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, Kristalina Georgieva, também disse que a chance de uma recessão global agora é de cerca de 25%. Em suma, os choques deste ano reabrirão feridas econômicas e os piores impactos ainda estão por vir.
Expectativa de crescimento real
O FMI vem pedindo aos bancos centrais para que continuem apertando a política monetária para combater a inflação. Georgieva defendeu no começo do ano que taxas de juros mais altas podem reduzir a inflação, apesar da guerra da Rússia na Ucrânia ainda em andamento, porque esfriarão a demanda, reduzirão os preços das commodities e aliviarão as pressões do mercado de trabalho.
Leia também: Entenda a alta da taxa de juros no Brasil e no mundo
Por outro lado, o FMI admite que o aperto monetário nos Estados Unidos deve desacelerar o crescimento do próximo ano para 1%. O impacto deve ser mais pronunciado na zona do euro, onde a crise de energia causada pela guerra continuará cobrando um preço alto, e o crescimento deve cair para 0,5% em 2023.
O FMI também cortou a previsão de crescimento do próximo ano da China para 4,4% devido ao enfraquecimento do setor imobiliário e aos bloqueios contínuos em meio à política de covid-zero.
Projeções do FMI para crescimento real anual, %
Apesar da desaceleração econômica, as pressões inflacionárias estão se mostrando mais amplas e persistentes do que o previsto. O FMI espera que a inflação global deve atingir um pico de 9,5% este ano antes de desacelerar para 4,1% em 2024. A inflação também é vista para além de somente alimentos e energia, e a mediana do núcleo da inflação global subiu de uma taxa mensal anualizada de 4,2%, no final de 2021, para 6,7%, em julho.
Núcleo da inflação global, %
Os preços em rápido aumento, especialmente de alimentos, energia e combustíveis, combinado com a desaceleração econômica, devem impactar principalmente os pobres, e devemos esperar uma piora dos indicadores de desigualdade e de desenvolvimento humano à nível global.
Contenção de Riscos
As políticas para lidar com a crise do custo de vida serão desafiadoras e os trades-off devem ser elevados. Destaca-se as possíveis ameaças:
- Escalada na guerra na Ucrânia pode exacerbar a crise energética.
- O risco de má calibração da política monetária, fiscal ou financeira aumentou em meio às incertezas e fragilidades crescentes.
- As condições financeiras globais podem se deteriorar e o dólar se fortalecer ainda mais, caso surjam novas turbulências nos mercados financeiros, empurrando os investidores para ativos seguros, o que apenas aumentaria as pressões inflacionárias e fragilizaria as economias emergentes.
Veja também: Debit Suisse? Entenda a crise do Credit Suisse
O FMI estima de que há cerca 25% de probabilidade de que o crescimento global de 2023 caia abaixo do nível histórico de 2% e, se muitos dos riscos se concretizarem (chance entre 10 a 15%), o crescimento global pode reduzir para 1,1%, praticamente uma estagnação da renda per capita.
Os Bancos Centrais sabem que um aperto insuficiente da política monetária poderia fortalecer ainda mais a inflação, corroer a credibilidade dos bancos centrais e desancorar as expectativas de inflação, o que somente aumentaria os custos para restaurar a estabilidade macroeconômica. Por outro lado, a elevação excessiva dos juros acarretaria a uma recessão desnecessariamente severa.
Ademais, a política fiscal não deve operar em oposição aos esforços das autoridades monetárias para reduzir a inflação. Fazer isso apenas prolongará a inflação e poderá causar séria instabilidade financeira, como vimos nos eventos recentes no Reino Unido.
Relembre: Para inglês ver: entenda a queda da libra esterlina
Outro ponto é que a crise energética, especialmente na Europa, não é um choque transitório, e o realinhamento geopolítico do abastecimento de energia após a guerra será complexo.
O conselheiro econômico e diretor de pesquisa do FMI, Pierre-Olivier Gourinchas, afirmou que o inverno de 2022 será desafiador, mas o inverno de 2023 provavelmente será pior. Ele defende que controles de preços, subsídios não direcionados ou proibições de exportação são fiscalmente onerosos e levam ao excesso de demanda, falta de oferta, má alocação e racionamento, e que a política fiscal deve ter como objetivo proteger os mais vulneráveis por meio de transferências direcionadas e temporárias.
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