Melhores ações de 2022: altas e baixas
O Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, encerrou o ano de 2022 com alta 4,69%. Os investidores tiveram que encarar ao longo do ano, uma série de eventos adversos para o mercado de ações como os efeitos do pós-pandemia, a guerra entre Rússia e Ucrânia e as eleições no Brasil.
Nesse cenário, alguns ativos tiveram um desempenho melhor, outros passaram por maior dificuldade.
Continue a leitura para entender o resultado das melhores e piores ações de 2022 e relembrar os acontecimentos do último ano.
Melhores Ações de 2022: maiores altas do Ibovespa
1 – Cielo (CIEL3)
A Cielo (CIEL3) teve o melhor desempenho desde seu IPO e liderou as altas do Ibovespa em 2022, com as ações saindo de R$ 2,17 para R$ 5,24, acumulando um ganho anual de 140,4%. A valorização dos papéis se deu sobretudo pelo processo de reformulação que a companhia passou no último ano.
A adquirente reduziu os custos operacionais, vendeu ativos e trocou executivos. Com isso, a empresa conseguiu a melhora do volume transacionado e maior eficiência no controle de gastos. É o que aponta o analista João Lucas Tonello da Benndorf Research ao portal E-investidor.
No entanto, o grande salto da empresa foi resultado principalmente do momento ruim que suas concorrentes passaram. Nos últimos anos, fintechs como Stone, PagSeguro e Mercado Pago estavam conquistando espaço no mercado, mas acabaram sendo penalizadas pela alta dos juros que encareceram o custo de financiamento.
Para 2023, a expectativa dos analistas é que, embora a existência de concorrentes torne difícil para a empresa retomar os picos de 2015, o mau desempenho dos competidores deve persistir por mais um tempo, o que faz com que ainda haja espaço para novas altas da Cielo.
2 – Prio (PRIO3)
As ações da Prio (PRIO3), antiga PetroRio, ficaram com a medalha de prata das maiores altas do ano passado. A petroleira foi uma das empresas que se beneficiou com a subida dos preços das commodities, neste caso, o petróleo, em meio a turbulência do cenário econômico global, principalmente após a guerra entre Rússia e Ucrânia.
Além disso, a petroleira também teve um bom operacional, sendo capaz de concluir o acordo com a Petrobras pelo campo de Albacora. Com isso, a companhia espera aumentar a capacidade de produção em cerca de 30 mil barris para 2023, como explica João Abdouni, analista da Inv ao portal E-investidor.
3 – BB Seguridade (BBSE3)
A medalha de bronze fica com os papéis da BB Seguridade (BBSE3). As ações da empresa ligada ao Banco do Brasil subiram 62,46% em 2022, também se aproveitando do cenário macroeconômico favorável ao setor.
No contexto local, as seguradoras se beneficiaram da alta da Selic. Mas no caso específico da BBSE3, a alta das commodities agrícolas também fez com que a empresa tivesse um bom desempenho, uma vez que detém boa parte dos contratos de seguro junto ao agronegócio.
4 – Hypera (HYPE3)
O quarto lugar vai para a Hypera (HYPE3). As ações da farmacêutica encerraram o ano com crescimento de 64,00%, tendo a sua recomendação elevada de neutra para a compra pelo Goldman Sachs.
Além disso, o Itaú BBA apontou em relatório que o mercado farmacêutico tem se mostrado resiliente e cresce consistentemente em dois dígitos. Os analistas do banco ainda observam que “a Hypera tem sido capaz de superar o mercado por meio da boa execução”, dando o exemplo de quando a empresa “previu um aumento na demanda por remédios para gripe no começo do ano e se beneficiou da escassez de estoque na loja dos concorrentes”.
Ainda segundo o banco, para 2023, a Hypera se mantém como uma das melhores opções para investidores que buscam alternativas defensivas, que combinem balanço robusto, baixa exposição ao câmbio e à inflação, e demanda estável.
5 – Assaí (ASAI3)
Por fim, as ações do Assaí (ASAI3) fecham o top 5 de maiores altas de 2022. A empresa manteve uma postura defensiva, com suas operações totalmente dedicadas ao atacarejo, em meio às incertezas com o cenário macroeconômico, conforme mostra avaliação da XP.
Além disso, a conversão de 71 lojas de bandeira Extra, cuja aquisição foi realizada em 2021, ajudou na expansão do grupo.
Outro ponto que contribuiu para a performance da empresa foi a diminuição da governança corporativa, após seu controlador majoritário, o Grupo Casino, vender 140,8 milhões de ações.
Piores ações de 2022: maiores baixas do Ibovespa
1 – IRB Brasil (IRBR3)
Abrindo a lista de piores ações em 2022 estão os papéis da IRB Brasil (IRBR3) com queda de 78,61%. A resseguradora teve mais um ano de baixas, ainda repercutindo a crise de confiança que se instaurou desde 2020, após a Squadra apontar inconsistências no balanço da empresa.
Neste último ano, a gestão da resseguradora ficou marcada por mais uma tentativa de reorganização. Em setembro, a empresa fez uma oferta pública de R$ 1,2 bilhão a um preço fixado em R$ 1 por ação. Além disso, a companhia vendeu sua sede no Rio de Janeiro por R$ 85 milhões, e realizou um acordo extrajudicial com a Casashopping envolvendo o recebimento de R$ 100 milhões.
No entanto, os resultados continuaram ruins, com prejuízo líquido aumentando no terceiro trimestre, em relação ao mesmo período de 2021. Para fechar, em dezembro, os acionistas da companhia aprovaram o grupamento de ações na proporção de 30 para 1, a fim de atender às regulamentações da B3, uma vez que as ações da IRB foram excluídas do índice Ibovespa por estarem sendo negociadas abaixo de R$ 1,00.
Por hora, os analistas têm dificuldade em dizer quando os ativos voltarão a ser rentáveis, e chamam a atenção para o risco de a empresa precisar de mais capital em 2023.
2 – Americanas (AMER3)
A vice-campeã das maiores baixas do ano é a Americanas (AMER3). As ações da varejista encerram o ano com desvalorização de -68,75%, sentindo os fortes impactos do cenário macroeconômico no setor.
A inflação e juros altos que impactaram o consumo doméstico somaram-se aos resultados decepcionantes da empresa no terceiro trimestre, puxando os ativos para baixo. Além disso, a empresa viu o JPMorgan e o Itaú BBA rebaixarem a recomendação de suas ações.
Apesar do cenário macro seguir incerto, os analistas esperam que a nova gestão sob liderança de Sergio Rial possa trazer grandes mudanças para a empresa, incluindo uma melhor integração entre os canais de venda físico e online.
3 – CVC (CVCB3)
A CVC (CVCB3) garantiu o bronze entre as ações de maiores baixas de 2022. Apesar da reabertura econômica ser benéfica para a empresa, os resultados ainda não puderam ser vistos no curto prazo.
Isso aconteceu, pois o desempenho da empresa depende, principalmente, da performance do setor de turismo que, por sua vez, não teve forte recuperação. O conturbado cenário macroeconômico com juros e inflação alta fez com que empresas aumentassem suas dívidas, sem uma compensação nas receitas.
Para 2023, estes desafios devem persistir, de modo que os analistas do BTG preveem que a queima de caixa deve continuar e as perdas líquidas causarão limitação ao interesse dos investidores.
4 – Qualicorp (QUAL3)
Em quarto lugar estão os ativos da Qualicorp (QUAL3) com baixa de 64,56%. A operadora de planos de saúde apresentou resultados ruins em 2022, com destaque para o número alto de cancelamentos.
Além disso, a empresa enfrentou a falta de um catalisador claro de curto prazo e viu suas ações pressionadas pela compra da SulAmérica pela Rede D’Or. A expectativa do mercado era de que os órgãos reguladores fossem exigir a venda das participações da Rede D’Or na Qualicorp, mas no fim a condição não foi exigida.
Para a maioria dos analistas, as ações da companhia devem ser vistas com cautela, em meio a um cenário ainda incerto para 2023.
5 – Gol (GOLL4)
Por fim, fecham o top 5 de maiores baixas de 2022, as ações da Gol (GOLL4). A empresa aérea também foi afetada pelo cenário macroeconômico conturbado, que prejudicou a recuperação do setor de turismo.
A companhia conseguiu aumentar o número de decolagens em 50% no último ano, em relação a 2021. Por outro lado, a taxa de ocupação caiu em quase 2% mostrando que a oferta de voos esteve acima da demanda.
Assim como no caso da CVC Brasil, as ações da Gol seguem prejudicadas pelas incertezas com a situação econômica do país para 2023. A persistência de um cenário com juros, inflação e dólar com tendência de alta pode ser prejudicial para a recuperação da empresa.
O fato de alguns problemas de 2022 que conturbaram o contexto econômico doméstico e internacional não estarem resolvidos pode indicar que este cenário deve permanecer pelo menos no início deste ano.
Relembre a seguir os fatos que impactaram os mercados no último ano.
Contexto de 2022
Pós-Pandemia
O ano de 2022 marcou o término da pandemia de Covid-19 em muitos países, o que por consequência levou ao fim das medidas restritivas e a retomada da atividade econômica que havia sido interrompida por quase dois anos.
A realização de lockdowns e outras políticas de isolamento para conter a disseminação da doença haviam afetado as cadeias de produção, fornecimento e transporte, reduzindo a oferta de produtos. Com a reabertura das atividades, a demanda retomou com força, mas os gargalos da oferta não foram resolvidos com a mesma velocidade, o que acabou gerando pressões inflacionárias nas economias.
Conflito Rússia x Ucrânia
Quando a crise da pandemia parecia estar próxima a uma resolução, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, deu início ao processo de invasão da Ucrânia, culminando na guerra que persiste até o momento no Leste Europeu.
O conflito gerou novos problemas que derivaram da disrupção de cadeias e das sanções internacionais impostas pelos países do ocidente contra a Rússia. As consequências envolveram a disparada dos preços internacionais dos produtos exportados pelos países envolvidos, como grãos, fertilizantes, petróleo e gás, alimentando ainda mais a pressão inflacionária nas economias do globo.
Inflação
A inflação foi um dos principais desafios econômicos de 2022, principalmente pelo fato das autoridades monetárias não estarem esperando um choque de grande magnitude. Durante o início do ano, diversos bancos centrais já anunciavam planos para retirada de estímulos à economia, conforme os efeitos da pandemia eram atenuados. No entanto, a rapidez da subida da inflação fez com que os planos fossem acelerados.
Como consequência, a maioria dos bancos centrais, principalmente das maiores economias do mundo passaram a adotar medidas de aperto monetário que duram até hoje.
Política monetária restritiva
O Banco Central do Brasil foi um dos primeiros a começar a subir os juros e a reagir à pressão inflacionária, com isso a autarquia conseguiu diminuir o ritmo de aperto antes do fim do ano, encerrando 2022 com a taxa Selic em 13,75%.
Por outro lado, o Federal Reserve, o Banco Central Europeu e o Banco da Inglaterra ainda seguem com o aperto monetário, apesar de terem diminuído o ritmo ao final do ano. No entanto, os dados de atividade ainda mostram que a economia desses países segue aquecida, o que demonstra que possivelmente os efeitos da retração ainda não estão sendo sentidos.
Crise no Reino Unido
Muitos britânicos classificam o ano de 2022 como o pior da história do Reino Unido no século XXI. Além da crise inflacionária e o consequente aperto monetário pelo Banco da Inglaterra, a nação perdeu a sua chefe de estado mais longeva, e viu uma crise política se instaurar no país.
Em julho, o então primeiro-ministro, Boris Johnson, renunciou ao cargo e o partido Conservador escolheu para o seu lugar a ministra Liz Truss. No entanto, o mandato de Truss não durou muito, pois o pacote fiscal anunciado por seu gabinete, que previa corte de impostos e aumento dos gastos públicos, pareceu inadequado para o momento que o país vivia.
A situação política no Reino Unido chegou a uma aparente resolução depois que os conservadores apontaram Rishi Sunak como o sucessor de Truss. No início de seu mandato, o atual premiê anunciou um novo pacote que prevê o aumento da tributação no país e uma contração dos gastos públicos.
Apesar de menores transtornos no campo político, no anúncio das novas medidas, o ministro das Finanças, Jeremy Hunt, declarou que o país tem altas chances de entrar em recessão.
Leia também: Para inglês ver: entenda a queda da libra esterlina
Covid-19 na China
Se o ano de 2022 marcou o fim da pandemia de Covid-19 em muitos países, na China, a disseminação da doença parece estar longe de um controle. O país mais populoso do mundo ainda mantém fechada a maior parte das atividades produtivas para tentar conter o avanço do vírus.
Ao final do ano, o país chegou a anunciar o relaxamento de algumas medidas, justamente para evitar que a economia entre em uma recessão profunda. Além disso, o governo chinês anunciou estímulos para alguns setores como o imobiliário, o que gera em alguns investidores a esperança de que haja aumento na demanda por commodities como o minério de ferro.
Eleições 2022
Por aqui, o principal assunto do ano foi com certeza as eleições de 2022. O pleito de outubro marcou o retorno de Lula (PT) para um terceiro mandato, após derrotar o então presidente Jair Bolsonaro (PL). Porém, a margem apertada de vitória do petista, e a eleição de um congresso mais conservador trouxeram ao mercado uma primeira sensação de alívio com relação a moderação política, mas também incertezas com a governabilidade.
Não só o processo eleitoral, mas os fatos que o antecederam foram grandes motores dos movimentos do mercado brasileiro. Em julho, o Congresso Nacional aprovou o projeto conhecido como PEC Kamikaze que turbinou uma série de benefícios sociais nos meses que antecederam a eleição. Além disso, o governo federal realizou uma série de cortes de impostos.
Essas políticas mais expansionistas ocasionaram uma percepção de que o cenário fiscal no Brasil poderia voltar a um patamar de descontrole. O pressentimento do mercado persistiu após a eleição, em meio às discussões do governo eleito e o Congresso Nacional para a definição do orçamento de 2023.
Pós-eleição
Nesse contexto, a PEC da Transição ganhou a atenção dos investidores que buscavam avaliar o risco fiscal para o ano de 2023. No final, o texto aprovado permitiu ao governo eleito despesas em até R$ 145 bilhões para além do teto de gastos, além disso o projeto ainda deu ao executivo a possibilidade de apresentar um novo projeto de arcabouço fiscal.
O mercado reagiu positivamente aos valores aprovados na proposta, que foram menores do que os R$ 200 bilhões propostos inicialmente. Além disso, o alívio com o cenário fiscal também aconteceu com a recente notícia de que o novo governo não pretende manter a desoneração fiscal para não prejudicar as contas públicas.
Com relação a equipe de Lula, os investidores tiveram uma cautela inicial com nomes considerados mais heterodoxos sendo ventilados entre os possíveis ocupantes da Esplanada dos Ministérios. No final, a equipe anunciada pelo presidente é composta por nomes majoritariamente ligados a partidos políticos em um movimento na tentativa de garantir governabilidade.
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