Bancos digitais entram no Open Investment e aceleram transformação do wealth management

Com novos participantes obrigatórios, Open Investment avança de tendência a realidade inevitável e redefine lógica competitiva do wealth management brasileiro
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PorGorila - 05/12/2025
Atualizado em 08/12/2025
6 min de leitura

A entrada obrigatória de grandes bancos digitais no sistema de Open Finance, medida
determinada pela Resolução Conjunta nº 10 do Banco Central, em vigor desde 1º de julho de 2025, marcou um ponto de virada no desenvolvimento do Open Investment no País. A norma alterou profundamente o desenho do ecossistema ao ampliar os critérios de participação e trazer para o jogo instituições individuais ou pertencentes a conglomerados com mais de 5 milhões de clientes. Com as mudanças, o Open Finance no Brasil definitivamente deixou de ser uma tendência ou opção… É uma realidade inevitável. O Open Finance alcança hoje 95% de todos os
relacionamentos financeiros existentes.

Nesta nova realidade, players como PicPay, Inter e PagBank entram no ambiente de dados abertos juntando-se aos bancos tradicionais e às plataformas que já atuavam na frente de investimentos, casos de Itaú, BTG Pactual, XP e outras instituições habilitadas desde a fase inicial. Além das normas impositivas, o novo texto permitiu também que qualquer instituição que optar por participar voluntariamente do Open Finance deverá trazer consigo todo o conglomerado, o que fecha brechas e cria um ambiente regulatório mais coeso.

A expansão ocorre em um momento simbólico, já que em setembro de 2025, o Open Investment completou dois anos de operações. É uma das etapas mais complexas do Open Finance, por envolver dados sensíveis e centrais tanto para investidores quanto para profissionais do mercado.

Assim como Johannes Gutenberg transformou a maneira de se consumir conteúdo com a invenção da prensa no século 15, o mercado financeiro no Brasil entra definitivamente em uma época de revolução ao descentralizar e difundir um dos bens mais importantes para a consolidação de uma estratégia financeira saudável e coerente: a informação. Entramos na era do sistema financeiro aberto.

Consolidação e nova governança

A ampliação das regras vem acompanhada de uma reformulação na governança. A estrutura criada em 2020 deu lugar a um novo modelo, previsto na Resolução BCB nº 400/2024, que passou a operar em janeiro de 2025. A mudança redistribuiu o poder de decisão, estabeleceu custeio proporcional ao porte das instituições e limitou a 3% o peso do voto de cada participante. O órgão máximo passou a ganhar representantes de diferentes segmentos do setor financeiro e dois membros independentes, e assumiu funções essenciais, como a aprovação de padrões tecnológicos, a definição do escopo de dados e o cronograma de implementação.

Para a Diretora-Presidente do Open Finance Brasil, Ana Carla Abrão, o sistema entra, de fato, numa fase de consolidação.

Segundo ela, esse movimento tende a unificar jornadas financeiras, fortalecer a autonomia do investidor e equilibra a concorrência.

Do berço do open banking ao novo modelo a seguir

As mudanças regulatórias implementadas pelo Banco Central nos últimos anos colocaram o Brasil no centro do mapa global de finanças abertas, transformando o País em referência prática de execução em larga escala. Esse avanço reposicionou o debate internacional e relativizou a antiga primazia britânica.

Por décadas, o Reino Unido foi o modelo do chamado open banking, um pioneiro normativo que estabeleceu padrões de interoperabilidade, impulsionou a abertura de dados e moldou o arcabouço técnico inicial do setor. Mas foi o Brasil quem levou o conceito a um nível de maturidade operacional que, hoje, inspira o próprio pioneiro.

Por décadas, o Reino Unido foi o modelo do chamado open banking, um pioneiro normativo que estabeleceu padrões de interoperabilidade, impulsionou a abertura de dados e moldou o arcabouço técnico inicial do setor. Mas foi o Brasil quem levou o conceito a um nível de maturidade operacional que, hoje, inspira o próprio pioneiro.

Impacto no mercado e avanço das soluções

Se a experiência das fases anteriores servir de guia, o avanço tende a ser rápido. Nas etapas de contas transacionais, pagamentos e crédito, o compartilhamento evoluiu em ciclos curtos, permitindo o surgimento de aplicativos de gestão financeira, marketplaces de crédito e ofertas personalizadas baseadas em comportamento. No universo de investimentos, o movimento deve seguir lógica parecida, mas com impacto potencialmente maior sobre o segmento de alta renda e sobre a indústria de wealth management.

Hoje, o Open Investment já permite a consolidação automática de carteiras mantidas em diferentes instituições, uma dor histórica de investidores que precisavam recorrer a planilhas e integrações manuais. Fintechs como a Gorila estão explorando essa função para criar soluções de monitoramento em tempo real, análises multicustódia e recomendações mais aderentes ao perfil de cada usuário. Com a chegada dos bancos digitais, o volume de dados aumenta e se pulveriza, abrindo espaço para modelos mais sofisticados de personalização, automação tributária e consultoria algorítmica.

Para profissionais de investimentos, consultores, assessores e wealth planners, o impacto é direto. Uma consolidação multicustódia mais precisa permite leituras mais completas do risco dos clientes, construção de carteiras realmente integradas e acompanhamento contínuo do comportamento financeiro. Ao mesmo tempo, aumenta a competição: plataformas que dependiam do “efeito caixa fechada” perdem poder informacional, enquanto consultorias independentes ganham ferramentas para competir em condições mais equilibradas.

Daniel de Paula, fundador da Nexgen Capital e da NEX Gestão de Recursos, destaca que os assessores têm agora mais instrumentos para orientar investidores de perfis variados. Eleito o melhor assessor de investimentos do Brasil em 2025 na Brazil Advisor Awards, premiação que reconhece destaques da rede de parceiros da XP Investimentos, ele afirma:

Qualidade dos dados, desafios e adoção

Ana Carla Abrão ressalta que o ecossistema vive um processo contínuo de aprimoramento técnico.

Para ela, avanços em padronização e validação dos dados são decisivos para ampliar a adoção e garantir jornadas mais fluidas ao investidor.

Ainda assim, o setor aponta obstáculos como diferenças no nível de detalhe das informações, falhas de consentimento, desconexões, questões de segurança e baixa familiaridade do público com o tema. Pesquisa do Datafolha mostra que mais da metade dos brasileiros ainda desconhece o Open Finance.

Para José Roberto Machado Filho, que acumula experiência em instituições como Santander, B3, ABN Amro Real, Rabobank Brasil e CCF, a segurança ganha protagonismo neste momento.

Apesar dos entraves, o consenso do mercado é que a combinação entre escala regulatória, nova governança, entrada de novas instituições e amadurecimento dos modelos de negócio acelerou a adoção ao longo de 2025, e deve seguir assim em 2026.

Perspectivas para 2026 e o novo ciclo do Open Investment

Bancos digitais, acostumados a operar com grandes bases de clientes e escalabilidade rápida, tendem a ser catalisadores dessa fase. Para o investidor, a perspectiva é de mais autonomia, transparência e ofertas personalizadas. Para o mercado, abre-se espaço para uma nova geração de serviços, da curadoria automatizada de produtos ao rebalanceamento inteligente, capazes de redefinir como brasileiros de diferentes faixas de renda constroem e acompanham seu patrimônio.

Se nas primeiras etapas o impacto se concentrou no varejo bancário e nos pagamentos, agora o movimento chega ao coração da indústria de investimentos. Com obrigatoriedade ampliada e governança renovada, o ecossistema passa a operar, pela primeira vez, com escala, estabilidade e representatividade compatíveis com o tamanho do sistema financeiro brasileiro.

À medida que o escopo se amplia, surge o próximo vetor de transformação. Como aponta Janser Rojo, cofundador da Dashplan, o segmento de seguros deve ser a próxima fronteira, por complementar naturalmente o ecossistema e permitir uma visão mais completa do patrimônio e das proteções do usuário.

Também nesse ponto ganha peso a percepção de especialistas sobre o ritmo de adoção. Para Gabriel Pereira, sócio-fundador da Let’s Money, a virada depende de um salto expressivo na entrega de valor ao usuário.

O conjunto de movimentos, expansão regulatória, amadurecimento da governança, melhora na qualidade dos dados, entrada dos bancos digitais e fortalecimento das soluções multicustódia, mostra que o Open Investment caminha para um estágio de maturidade capaz de redefinir a lógica competitiva do sistema financeiro brasileiro. Mais que uma inovação tecnológica, é uma mudança estrutural que redistribui poder informacional, reposiciona papéis e desafia modelos tradicionais de atendimento e gestão patrimonial.

Ao mesmo tempo, abre espaço para novos fluxos de valor, combinando dados, automação e
personalização avançada. Se 2025 consolidou as bases e 2026 inicia o ciclo de escala, o
próximo passo será transformar essa infraestrutura em ganho perceptível para o investidor
comum, o marcador definitivo de sucesso de um ecossistema que, pela primeira vez, une
profundidade regulatória, amplitude de mercado e velocidade de inovação em torno de um
mesmo eixo.

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